terça-feira, 26 de outubro de 2010

Poemovimento: Poemas de Ferreira Goulart

Poemovimento: Poemas de Ferreira Goulart: "TRADUZIR-SE Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e s..."

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O Be-a-ba da Culinária! Dicas e receitas fáceis para quem quer aprender a receber.Poemovimento também tem poesia. Passeie pelo blog que está nascendo para trazer novidades todos os dias.

 
Olá! Sou Maria Dorothéia de Abreu, adoro culinária, música e poesia. Este bolg é uma forma divertida de conhecer essas três deliciosas formas de curtir a vida. Aqui tem de tudo. Aproveite.              

              Guia para organizar uma reunião para 6 pessoas.
Contando com você e seu amor chegamos ao total de 8 pessoas.
                                        
                                         Trataremos da entrada
                                         Prato Principal
                                         Sobremesa
                                         Café
                                         E o qual a bebida certa para oferecer?


Vc nunca recebeu ninguém na sua casa para uma reuniãozinha bem simpática?
Ora, ora!
Esta página tem o dever de lhe servir de maneira agradável e descomplicada.

Vamos preparar comidinhas gostosas e fáceis para que você não tenha medo da cozinha. Tudo que eu postarei aqui vc pode ter certeza, são receitas testadas e aprovadas.

Cozinhar é uma arte. Os gourmets são grandes artistas. Você não é gourmet, mas isso não quer dizer que não possa receber com um jantar pra lá de gostoso. O cenário é a sua casa. O palco se abrirá!
Mas receber bem tem regras que não vem das aulas de etiqueta e eu chamo de:

O planejamento de uma reunião depende de duas coisas: quem estará presente e o que será servido.  
Essas duas variáveis são o ponto de partida. Mas abra o seu coração para o seu convidado. As melhores recepções vem da alma. O resto fica fácil se você quer estar ali com as todas aquelas pessoas na sua casa.

-A protagonista da noite é você.
-Mas não precisa parecer o que não é. Use o que você tem.
Experimente um pouco de criatividade, um arranjo de flores do campo que não são caras, no cento da mesa, o guardanapo pode até ser de papel mas enrole e amarre uma fitinha da cor da louça. Vou fazer um item só de pequenas gracinhas na mesa ok.
-O seu convidado JAMAIS deve se sentir constrangido diante do que você lhe apresentar.
-Procure conhecer suas preferências. Se não tiver intimidade para isso ofereça pratos distintos como frango e peixe, carne vermelha e frango. Já imaginou se o seu convidado for alérgico a camarão e você servir um bobó no jantar? Desastre.
Mas vou lhe apresentar variações interessantes para não passar perrengue.

  
Vamos começar com uma arruamação bem simples, mas correta.


             
                            


                                                                      Talheres
            Lado direito: As facas.
            Lado esquerdo: Os garfos.
            Acima do prato: Os talheres de sobremesa.

                            
           
                                      Como usá-los?
                 
Pratos salgados: Começar a usar os talheres sempre das pontas para o centro.

Sobremesa: usar de cima para baixo. veja que as extremidades dos talheres estão viradas para direções opostas. Puxe para o lado que estão os cabos.Neste caso da foto, primeira a ser usada será a colher para a direita e depois o garfo para a esquerda.

                                                Pratos

Na foto acima eles estão sobre um maior o souplá ( que só servirá de apoio). Vemos dois pratos de louça. O menor será para servir uma entrada que pode ser uma salada ou um prato frio.
O maior para o prato principal e quente.
O prato que aparece acima e à esquerda é para um pãozinho. A faca sobre ele poderá ser usada para algum patê ou manteiga.

Obs: e a colher de sopa. Por que esta colher de sopa aparece  aí ao lado das facas?
Neste caso o primeiro prato a ser servido à mesa será um consommé. A colher está numa posição estratégica. Será o primeiro talher a ser usado. Ops, não se preocupe com este nomezinho que talvez lhe pareça muito parisiense para uma mesa brasileira. Tudo bem que venha do francês consommé, mas apenas siginifica

1.caldo concentrado de carne ou galinha

2-caldo mais leve de peixe ou legumes
É na verdade, uma sopa delicada e em pequena quantidade.
Lembre-se que é apenas uma ENTRADA. 

                          Voltando para arrumação da mesa:

                                                Copos

Da esquerda para a direita de quem está sentado à mesa. Do maior para o menor.
Em primeiro lugar, ao arrumar os copos na mesa esses devem, ser colocados de boca para cima. Assim, primeiro vem o copo de água, depois o de vinho tinto e do vinho branco. A flute , taça para champagne não aprece aqui, mas se vc colocar ela deve ficar um pouco atrás, entre os copos de água e de vinho tinto.

Opte por jogos americanos. Hpje você encontra muitas opções charmosas e de bom preço. Toalhas de linho são lindas se você tiver. Mas se não tem use joguinhos americanos. Eu adoro.


                                            Sopa

Este prato inicia a refeição propriamente dita, continuando, no entanto, o propósito dos acepipes.(petiscos)
Um caldo quente, consommé, é servido numa chávena própria, larga de fundo chato com duas pegas e com uma colher ou é simplesmente levada à boca com as duas mãos que seguram as pegas. A colher, se for usada será deixada no prato que acompanha a chávena.( nossas avós usavam esta palavra para definir xícara média em seus maravilhosos cadernos de receitas, mas neste caso é a pequena sopeira onde foi servido o consomé.)
As sopas podem ser divididas em 6 grupos:
  • caldos claros ou consommé ( que vc já sabe o que significa) 
  • caldos ligados ou caldos de peixe, carne ou legumes, ligeiramente engrossados;
  • cremes ou sopas cuja consistência e o aspecto lembram os de um creme vulgar;
  • purés ou sopas com uma consistência mais espessa;
  • veloutées ou cremes com base feita de farinha e manteiga;
  • especiais ou sopas regionais e estrangeiras que não se aplicam nas anteriores.

                                    ~
             Obs:Veja a colher que aparece na segunda foto. Não está legal. Mas o lacinho na asa da sopeira é um charme.

Vamos então chamar de simplesmente Cremezinho.

Este prato inicia a refeição propriamente dita, continuando, no entanto, depois dos petiscos que foram servidos quando seus convidados chegaram.
CUIDADO: não encha a sua mesinha de centro de petiscos. Eles podem detonar o apetite do seu convidado e você não quer que isso aconteça.
O petisco é como a cortina de um palco que se abre. É hora de começar a festa. De entender o seu siginificado . O que teremos?  O que vamos comer? Deve combinar com o que vc irá servir. Eu particularmente não gosto de muitas variações de petiscos para um único almoço ou jantar. Estragam o apetite e fazem uma confusão de sabores. O estômago perguntará: o que é isso? e mais isso? isso tem outro gosto?... bobagem.
Devem ser de acordo com o que iremos comer no jantar.
Mais tarde falaremos só de petiscos.
cont amanhã.

Se vc não sabe como era a TV no passado acesse para ver uma antiga propaganda de TODDY.Engraçada.

http://www.youtube.com/watch?v=UbW9LPwLzrM
 Um exemplo:

                                  Reunião para seis amigos. (este item será sempre atualizado)

Serão seis ao todo certo. Vc e o seu amor e os quatro amigos. Ou para suas cinco amigas que vc adora receber. Com você seis. Não passaremos deste número.

Se quiser servir vinhos:
                                   1- Espumantes:

Seu cálculo será de 1 garrafa para duas pessoas. Ninguém vai querer se embebedar, não é mesmo? Se quiser pode ter mais algumas garrafas na geladeira mas esta quantidade acima serve muito bem.
Quando for comprar não se espante com a infinidade de nomes nas garrafas. Calma. Por isso é bom procurar uma boa loja, pois lá sempre terá alguém para lhe dar uma ajuda na hora de escolher.
espumantes-mix-custom.jpg

                                  Algumas dicas                                     
Estes são todos espumantes, mas veja que ganham nomes diferentes. è a sua certidão de nascimento:
Champagne, Mousseaux e Crémant - é assim que são chamados na (França),
Cava (Espanha),
Spumante e Prosecco (Itália),
Sparkling Wine (EUA e outros paises de língua Inglesa),
Espumantes (Brasil e Portugal)
e Champaña (Argentina).
Viu como já ficou mais fácil olhar para a prateleira cheia de garrafas diferentes?
Mas somente o Champagne, produzido na região de Champagne na França, pode ter essa denominação.
( Se você quiser saber mais sobre vinhos visite o site " Espumantes Tudo que você queria saber mas tem vergonha de perguntar " de João Felipe Clemente.)

Mas vamos supor que você queira apenas curtir o sabor de um espumante de bom preço, bem gostoso e que combine com a sua reunião.
        Em primeiro lugar tenha em mente o que pode gastar com a bebida porque há vinhos espumantes de todos os preços. Atente, entretanto, para a qualidade;  é muito importante.
        Vá a uma loja especializada em vinhos ou ao supermercado que tenha uma boa prateleira para armazená-los longe do sol.
         Depois de definir quanto quer gastar procure o responsável pela seção e peça ajuda. Vc já sabe o que é um espumante, agora é só escolher.
Para maior informação os espumantes podem ser ;
 Nature – até 3 gramas de açúcar por litro /
 Extra Brut – 3 a 6 gramas /
 Brut – 6 a 15 gramas /
Seco – 17 a 35 gramas
Demi-Sec – 33 a 50 gramas
Doce, acima de 50grs.
Se vc pode gastar a té 50 reais por garrafa poderá comprar o nacional Chandon, ou o espanhol Codorniu. Se pode gastar até 250,00 por garrafa o Veuve Cliquot é muito bom. Este último é um campagne. Se quiser saber a sua história leia A Viúva Cliquot e divirta-se com uma boa leitura.

                                                                  Livro - Viúva Clicquot, A
                                                                  A faixa de preço pequisado: 29,00 reais
Leia um resumo sobre o livro:

A história da fundadora de uma das casas de champanhe mais famosas do mundo é contada em A Viúva Clicquot. Graças a um extenso trabalho de pesquisa, a autora Tilar J. Mazzeo nos mostra que, nos séculos XVIII e XIX, Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin foi uma das primeiras mulheres a liderar um império comercial internacional, sob a marca Veuve Clicquot. Sem medo de arriscar a própria independência financeira, ela fez do produto que vendia um sinônimo de luxo e tornou-se uma lenda na França.

Filha de um rico comerciante, Barbe-Nicole testemunhou, ainda criança, a Revolução Francesa. Criada para ser esposa e mãe, ela não tinha o menor conhecimento do mercado de vinhos, já que o dinheiro da família era proveniente da indústria têxtil. Sua entrada no ramo da vinicultura viria graças ao casamento com François Clicquot, cujo pai, que também fizera fortuna na área de tecelagem, resolvera investir no comércio de bebidas.

Viúva aos 27 anos, com uma filha pequena e sem qualquer formação empresarial, Barbe-Nicole assumiu o controle da vinícola do marido. Em meio ao caos das guerras do período napoleônico, a jovem levou pouco mais de uma década para transformar uma pequena empresa familiar em um grande negócio, superando períodos de crise e firmando-se como uma das mulheres mais ricas e bem-sucedidas de seu tempo.

Voltemos aos nosso jantar. Bem simples e gostoso.
                                                
                                                                O Jantar

Entrada: Vamos começar com o consomé. Não se preocupe, é fácil.
    
                                                                 Ingedientes





Poemas de Ferreira Goulart

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar



NO CORPO
 

De que vale tentar
reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.


Ferreira Gullar

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

                  APRESENTAÇÃO DO MEU SEGUNDO LIVRO


                      A POÉTICA DA TARDE

            Toda poesia se alimenta de uma grande missão espiritual.  A poesia está para alma assim como a respiração está para o corpo.
O poeta é uma natureza emanada da alma, uma presença extraordinária e livre no tempo e no espaço. E a poesia é o viés por onde ele se revela.
No poema “Eu não sou eu”, Juan Ramón Jiménez esclarece esta afirmação:
“Eu não sou eu/ sou este/ que vai ao meu lado sem que eu o veja, / que, às vezes vou ver/ e que, às vezes, esqueço. / O que cala sereno quando falo, / o que perdoa, doce, quando odeio,/ o que passeia por onde não estou,/ o que ficará em pé quando eu morrer.”
Escrevia Rimbaud: “ Eu é um outro”, ou seja, o poeta é uma presença invocada e encarnada no autor.  Entretanto este “outro”, também chamado de “eu poético”, não destrói o “eu real”, o humano; ao contrário, ele o completa.  É bem verdade que a poesia constrói-se de sensações, no entanto ela é essencialmente humana, pois embora o processo poético se dê na esfera sensível, no plano subjetivo, não há como separa-la das experiências de vida real do autor. Conforme eu disse, o poeta só se revela quando ele mesmo culmina no poema.  E a ferramenta usada para este desvendamento é a palavra, outra característica genuinamente humana.
Outra admirável definição de poesia vem das palavras de Eliot não como uma doutrina literária, tampouco estética, mas apenas uma necessidade pessoal.  A poesia não é a libertação da emoção, mas uma fuga da emoção; não é a expressão da personalidade, mas a fuga da personalidade; mas, é claro, só os que têm personalidade e emoções sabem o que significa fugir dessas coisas”. Para ler poesia é preciso ser naturalmente comprometido com ela.
“A Poética da Tarde” não poderia nascer se não a precedesse estas questões. Viver é um ato generoso da vida. Mas há algo novo que me inquieta desde quando comecei a preparar este livro: o entardecer da minha vida não é mais uma idéia. É um fato. Uma “nova face” me olha.  Como defini-la? Em quem estou me transformando? O que deve mudar? O que pode durar?  Este livro é um recurso íntimo para exprimir as diferentes tensões deste poema vivo do “continuar a ser”.
A primeira questão, entretanto, é conseguir transferir para o papel a intensidade poética da imagem do pensamento. O pequeno poema do início do livro dá sentido ao que digo: Entardece. À cena, a tarde me olha e acena.  A palavra Entardece de imediato remete à idéia de passado. Entretanto a intensidade poética desta mesma palavra a faz desgarrar do seu sentido original para potencializar em Entardece a idéia de tempo, de duração, ou seja, o entardecer da vida como continuidade da existência. Uma nova idade se apresenta.
Em seguida Entardece. À cena... Além de definir-se como pano de fundo para a tarde vista na foto, À cena é a representação do instante, do agora. O entardecer é agora. A cortina está aberta para um novo ato.
E por fim, Entardece. À cena, a tarde me olha e acena. A tarde me olha, pois que, se poematiza a partir de mim. ... e acena. Este gesto não é só de despedida do dia iluminado, mas é também um chamado.  Com as luzes da juventude abrandadas eis um convite para o “continuar a ser”. Olho para a minha tarde como um grande presente! As luzes mais fortes do dia se foram; luzes mais serenas emanam de mim, pois que agora estão em mim.
Mas é muito difícil o diálogo do pensamento, o ilimitado, a ilusão com a palavra. Mas este o é ofício do escritor: ler muito, pensar muito, para buscar no universo tão vasto da linguagem a palavra mais fiel ao seu pensamento. Mas afirmo: ele jamais a encontrará, pois que é exatamente o ilimitado que mantém viva a sua alma de poeta.
              Em grande parte deste livro os poemas são escritos em versos livres, pois que não se fecham em si mesmos em imagem e sentido. ( ... Entardece uma dor.../.... eu me sabendo/ sem o temor das sombras/ avançando sobre o tapete...). Nota-se o verso partindo para outra linha como continuação do anterior.
               Na segunda parte do livro os poemas são mais musicais. O ritmo e a rima estão presentes, embora não estejam corretamente versificados e a métrica tradicional não apareça... Como é possível meu amor atrasar?!/Da triste espera que me inquieta o peito, /o que me resta é escrever sem jeito: /Dorzinha danada, essa que dói de amar!
                 Por fim, A Poética da Tarde é o pensar livre do poeta no incessante devir. Para isso opõe-se ao tempo real marcado pelas horas do relógio. O poeta vive lapsos de tempo entre o instante presente, o “sendo”, ( ... vivo no entretempo da cena doméstica...) para o “presente passado o “ sido”,  ou “presente querido das coisas passadas” ,  ( ... giro no movimento contrário ao movimento do mundo...).  Tudo isso para expressar o “sendo“ em sua totalidade como única e possível existência. (... E se eu morrer amanhã/não há o que temer/tampouco a perder. /A morte não tem consciência da vida...) . (...Única é a vida!).
               Mas não há livro sem leitor.  Portanto eis aqui um convite para que ele justifique definitivamente o este seu papel.
                                                                                      A autora.
Bem-vindos amigos da Poesia!

Este blog é dedicado a ela. Penso sinceramente que existe uma outra vida, " realmente vivida " como escreveu Proust. Outra vida, paralela e essencial. A vida do espírito, independente de tempo e espaço. Os poetas aí se encontram. Um poeta, eu sempre digo,  é uma emanação encarnada!
Para mim esta é a concepção da verdadeira existência de uma outra vida.
Há um poeta em mim que não sou eu.
Sou a apenas a sua hospedeira.
Mas como este outro em mim, só existe a partir de mim, esta experiência é também um paradoxo por ser ela mesma de natureza essencialmente humana.

A autora.
      Poemas do livro:




    A Poética da Tarde






Ponto

Entardece.
À cena,
a tarde
me olha.
Acena.




Contraponto

Nada há de mais cruel
que o poente.
Entardecer, entretanto,
é belo demais
para o pranto.




O chamado

Entre tons e entre cores
da hora extenuada do dia,
os olhos da tarde me olham.
Lembro a minha cara rosada
de menina.
Toco o resto do rosto.
Hora de suspender a lida
do vasto lume do dia.
—Bem-vinda metade sépia!
Senhora de câmaras mais profundas
em substância e cor
toma-me sem muito alarde
ou clarão
das manhãs que me acenderam.
Circunda-me com essa coisa trigueira
que aos olhos não pune
porque outra beleza, aqui,
existo buscando.
É só.



 “Livrai-me, amiga, dos entulhos do dia
e da crosta fatigante de carne e véu”.
E enquanto cinzela, golpeia e esculpi
as linhas brutas de meus contornos,
deixa cair sob os meus olhos
uma claridade de verso
e em meus ouvidos
uma estridência de prosa.
Cerne desvendando,
canto jorrando,
quase música.
Ritmados sons.
Tanto de vida em mim
mais flama.
E funde.
E fica.

Rotina

é a zona de fronteira.
Espaço da casa.
Paredes da casa.
As sombras da tarde deslizam.
Entardece uma dor
saudosa do dia,
enamorada de si mesma,
pois que,
a tarde
de tanta luz precedida
sou eu
me banindo de mim?
Inevitável.
Clara casa eu era!
Estranho...
Eu me sabendo
sem o temor das sombras
avançando sobre o tapete.
Tem gente que morre de medo.
O arroz com feijão de sempre,
o fastio,
a agonia comprida,
é que recolhem as roupas do varal?
Eu?
Não guardo nada.



 
Bricabraque


O adiante é aqui.
E cá estou
pisando nesta página
de saltinho baixo,
volumes inesperados
que as horas vão sulcando
à medida das manhãs.
Nunca contei a ninguém
o quanto negocio comigo mesma
as minhas desordens,
ajeitando-me aqui e ali,
na ordem redonda de cada dia.

Às vezes despetalando,
rosa arrancada e seca,
não me reconheço.
Rosto nenhum,
corpo nenhum.
Minha forma é movimento
e sou igual a tudo no mundo.
Meus volumes agravando
para o fundo
matéria para idéia,
eu sem entender essas coisas.
Peça de quebra cabeças
procurando espaço,
aqui e ali
sou parte da paisagem.
Mas uma coisa concebo de bom grado:
Não sou deterioração
ou antecipação.
Estou aí.
Vértice de mim.
Humana de duração,
imensa de espírito.
Para o que me submeto,
atravessa e trespassa ,
olho para trás.
Mais barulho que tudo.
Com o peso da tranqueira toda
colado na alma
sou, de dentro para fora
colada na vida.
Mais de cinqüenta emendas
rumo ao poente.
Alguma antiguidade
em forma de craquelê
e um pouco de ruína.
Ora...ora...
Segue, pois, uma poderosa dama!
Tudo o que perdi
a vida me deu.

 
No mais, não há espanto.
Apenas o presente
com traços mais plácidos,
conversa mais seleta,
dessas de mim pra mim.
Uma sacodida de ombros
só para dizer:
 Estou livre dos temores
dessa  coisa terrível
que é a esperança.

Poema despedaçado


Dora
          c
          h
           o
           r
           a ...
de noite
até a aurora.
Ora a Dora,
pois que a dor
porque
                c
                h
                o
                r
                a
não vai embora.
Tão triste é a dor
que em Dora mora!
Dor      que       d      e      m      o     r      a ...