terça-feira, 5 de outubro de 2010



Escarpas do lago


A rede fazia a corte
no segundo andar da casa.
Arrumei a casa,
a mesa,
o café,
a louça,
os talheres,
odiando faze-lo
com a mesma sabedoria
sem clemência
de minha mãe.
Ela me ensinou tudo
sobre a lida doméstica
reincidindo no mesmo erro
que educou minhas irmãs.
Menina cismada...
Desse jeito nunca vai arrumar marido.
Sua voz soa longe,
ainda esbravejando.
Eu num riso sentido
de saudade dela tão jovem e forte.


Naquela manhã
entre os morros
uma nódoa de feérica claridade
abriu os olhos sombrios da lagoa.
Fechei os meus.
Eu era um veleiro
nascido nestas manhãs
de papa-vento.
E lá estava eu bem no meio
do meu rio de dentro!
Que tipo de força é esta?
Um pórtico onde ultrapassado
NADA MAIS ACONTECE
Visão de eternidade?
Não.
Apenas uma confusa mistura de ninhos,
entremeados de cheiros
em diáfanos galhos da árvore de família
em dependência íntima.
—Mãe, faz um suco de laranja.
Mãe, filha e neta.
Obediência do tempo que pesa em mim.

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